segunda-feira, 21 de novembro de 2011

CEO's de 20 países se reúnem em SP para discutir o cenário brasileiro

CEOs discutem o cenário brasileiro.
Por Vívian Soares | Valor
Claudio Belli/ValorPedro Gonçalves, presidente da Roche Diagnóstica do Brasil, foi um dos executivos sabatinados pelos CEOs que vieram ao país
17/11/2011 ÀS 10H04
SÃO PAULO - Os presidentes de companhias de todo o mundo já sabem que o Brasil vive um momento único e é um mercado repleto de oportunidades. As dúvidas desses executivos sobre o país, no entanto, parecem ser maiores que as certezas e vão desde temas como a aceitação da presidente Dilma pelo mundo corporativo, o desafio da mão de obra em um país com falta de gente qualificada e até mesmo o impacto da corrupção sobre os negócios.
Atender à curiosidade de CEOs de 20 países ficou a cargo de Pedro Gonçalves, diretor presidente da Roche Diagnóstica Brasil, Dario Galvão, presidente do conselho da Galvão Engenharia, e José Vita, sócio do BTG Pactual. Eles foram sabatinados por quase duas horas pelos 43 executivos que se reuniram na última semana na sede da escola de negócios ISE, em São Paulo, na primeira etapa do programa de educação executiva Global CEO. O curso, voltado exclusivamente para quem está no comando de empresas, terá outros dois módulos de uma semana nos Estados Unidos e na China em 2012.
Gonçalves, Vita e Galvão fizeram apresentações sobre suas companhias, os segmentos em que atuam e o cenário macroeconômico do país. Otimistas, eles driblaram as questões até dos mais exigentes, como foi o caso do espanhol Juan Carlos García, CEO da consultoria Sigrun Partners, que quis saber quando veria verdadeiras multinacionais brasileiras se destacarem no mercado global. “Até por conta do seu tamanho, o Brasil é um país muito voltado para o mercado interno. Além disso, ainda se trata de uma economia muito fechada”, justificou Vita. Outros CEOs, porém, apontaram nomes de empresas brasileiras internacionalizadas, como Vale e Odebrecht.
Presidente do grupo Adecco na França, Alain Dehaze perguntou sobre o desafio de gerenciar mão de obra no país. Endereçando uma pergunta a Galvão, ele quis saber como a companhia administra seus mais de 16 mil funcionários. “Vocês terceirizam mão de obra? Têm problemas com alta rotatividade? Há muitas reclamações trabalhistas?”, questionou. O presidente do conselho da Galvão Engenharia respondeu com cautela. “Terceirizamos parte do serviço, mas no Brasil é preciso observar muito bem as leis trabalhistas para não ter problemas”, afirmou.
O espanhol Javier Parcerisa, sócio da Plataforma Alternativa de Valores Españoles (PAVE), questionou o controle de circulação de capitais no país. “Trata-se de um legado dos anos 1990 que, aos poucos, está caindo. O que o governo está tentando é controlar a entrada de  investimento de curto prazo no Brasil”, disse Vita. O atual governo também foi o tema da pergunta de Emilio Soto, presidente do Bancolombia. “Vocês estão gostando da presidente Dilma?”, indagou. A resposta ficou a cargo de Vita mais uma vez. “Ela é mais técnica, gosta de resolver as coisas. Tem feito um bom trabalho”, avaliou.
“E dá pra fazer dinheiro no Brasil?”, questionou novamente Dehaza, da Adecco. “Estamos satisfeitos com os nossos resultados”, afirmou Gonçalves, da Roche. A ameaça da crise sobre o país também intriga alguns executivos, como o holandês Hans Van der Noordaa, CEO do ING Bank. “O que está acontecendo na Europa pode prejudicar o Brasil no curto prazo?”, perguntou o executivo. A resposta, segundo Vita, pode vir do desempenho da Ásia. “A China conquistou a posição de maior parceiro comercial brasileiro e a nossa visão é de que isso se manterá”, exemplificou.
De acordo com o diretor geral do ISE, Paulo Ferreira, os CEOs externaram, durante toda a semana do curso, suas principais preocupações em relação ao Brasil. Foi possível perceber que ainda existem muitos preconceitos relacionados à corrupção, por exemplo. “Eles têm medo de precisar ser anti-éticos para conseguir fazer negócios no país. Normalmente são mal-informados por agentes ou operadores e perdem essa percepção quando chegam aqui e veem exemplos de companhias que conseguem operar de forma correta”, diz. Outra curiosidade dos executivos, segundo Ferreira, é a complexidade do mercado brasileiro. “As principais dificuldades são com o sistema fiscal e trabalhista. Eles querem entender como funciona e como as empresas sobrevivem nesse cenário”, afirma.
(Vívian Soares | Valor)